Oscar 2020: o que a temporada de premiações nos diz até agora?

Considerados termômetros da cerimônia da Academia, prêmios como Globo de Ouro e SAG podem ajudar na hora do bolão

Lucas Bandos Lourenço
11 min readJan 29, 2020

A pouco menos de duas semanas da cerimônia de entrega do Oscar, já é possível antever o cenário que deve se desenhar durante a 92ª edição do prêmio, marcada para o dia 9 de fevereiro (domingo), no Teatro Dolby de Los Angeles. A entrega dos troféus da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas encerra a award season deste ano, aberta pelo Globo de Ouro, no último dia 5.

Além da premiação oferecida pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, diversas outras cerimônias, em sua maioria promovidas por organizações de classe ligadas à indústria cinematográfica — como os SAG Awards, do Sindicato dos Atores de Hollywood (SAG-AFTRA), e os Critics’ Choice Awards, da Associação de Críticos de Cinema dos EUA e Canadá (BFCA) — , são consideradas importantes termômetros do Oscar. Afinal, boa parte dos integrantes dessas agremiações também são membros votantes da Academia, tendo, portanto, poder de decisão sobre quem deve ou não colocar as mãos nas mais cobiçadas estatuetas do show business norte-americano.

Neste ano, a produção líder em indicações é o longa-metragem Coringa, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2019. Dirigido e coescrito pelo nova-iorquino Todd Phillips, o filme foi nomeado em 11 categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator, para Joaquin Phoenix.

Em segundo lugar na corrida pelo “careca dourado”, aparecem empatados os longas Era Uma Vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino; O Irlandês, de Martin Scorsese; e 1917, de Sam Mendes, com 10 indicações cada.

Outro destaque entre os concorrentes aos troféus é a produção asiática Parasita. Premiado com a Palma de Ouro na última edição do Festival de Cannes, o filme, dirigido e corroteirizado pelo sul-coreano Bong Joon-Ho, é uma das raras obras na história do Oscar a ser simultaneamente indicada às estatuetas de Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro — além de acumular outras quatro nomeações, nas categorias de Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Design de Produção.

Para ajudar no bolão, reunimos abaixo os mais prováveis vencedores de 11 das 24 categorias contempladas pela cerimônia da Academia, tendo por base os resultados de algumas das principais premiações desta temporada.

No entanto, vale lembrar que, até o dia 9 de fevereiro, ainda serão anunciados os ganhadores de outros importantes eventos-termômetro do calendário hollywoodiano, como os WGA Awards, do Sindicato de Roteiristas dos EUA, agendado para sábado (1/2), e o BAFTA, da Academia Britânica de Cinema e Televisão, a ser realizado no domingo (2/2).

Confira a lista a seguir e faça você também suas apostas:

→ MELHOR ANIMAÇÃO: “Toy Story 4“

Em 2020, a Academia deve reiterar sua insistente predileção pelas produções da Pixar, elegendo o quarto longa-metragem da franquia Toy Story como Melhor Filme de Animação. Só para se ter uma ideia, nos últimos dez anos, metade dos vencedores desta categoria foram lançados pelo estúdio californiano, incluindo Toy Story 3, que faturou a estatueta em 2011.

Neste ano, o mais recente episódio da saga de Woody e Buzz Lightyear já confirmou seu favoritismo ao longo da temporada de premiações, tendo angariado troféus nos PGA Awards, do Sindicato dos Produtores de Hollywood; nos ACE Eddie Awards, do Sindicato dos Montadores norte-americanos; e nos Critics’ Choice Awards, da Associação de Críticos dos EUA e Canadá.

→ MELHOR DOCUMENTÁRIO: “Indústria Americana”

Uma situação curiosa marca a disputa pelo Oscar de Melhor Documentário neste ano, já que o filme mais premiado pelas associações de classe ao longo da temporada sequer foi indicado para concorrer ao troféu. Vencedor da categoria no PGA, no ACE Eddie e nos Critics’ Choice Documentary Awards, o longa Apollo 11que reconstrói a chegada do homem à Lua, a partir de registros inéditos e restaurados do arquivo da NASA — , acabou esnobado pela Academia.

Assim, não demorou para que o favoritismo à estatueta fosse transferido para Indústria Americana. A produção da Netflix — realizada em parceria com o estúdio Higher Ground Productions, comandado pelo ex-casal presidencial, Barack e Michelle Obama — investiga os choques culturais que permeiam o cotidiano de uma fábrica de vidros automotivos do grupo chinês Fuyao, instalada no estado norte-americano de Ohio, no mesmo local onde funcionou uma operação da General Motors, fechada em meio à crise econômica de 2008.

Vencedor do prêmio de Melhor Direção de Documentário, tanto nos DGA Awards, do Sindicato dos Diretores de Hollywood, quanto na penúltima edição do Festival de Sundance, o filme de Steven Bognar e Julia Reichert ainda faturou dois troféus nos Critics’ Choice Documentary Awards, nas categorias de Melhor Direção e Melhor Documentário Político.

→ MELHOR FILME ESTRANGEIRO: “Parasita”

Indicado em outras cinco categorias da premiação da Academia, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original, o sul-coreano Parasita parece já ter garantido ao menos a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar do prestígio internacional angariado por alguns de seus concorrentes, como o espanhol Dor e Glóriadirigido por Pedro Almodóvar e vencedor de sete prêmios Goya — ou, ainda, o francês Os Miseráveisque dividiu com o brasileiro Bacurau o Prêmio do Júri na última edição do Festival de Cannes — , o longa de Bong Joon-Ho foi, de longe, o “forasteiro” mais bem-sucedido desta temporada.

Além de faturar a Palma de Ouro em Cannes e os troféus de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro, nos National Board of Review Awards e nos Critcs’ Choice Awards, a produção asiática também fez história ao conquistar prêmios raramente concedidos a obras rodadas fora do eixo EUA-Reino Unido, como o SAG Award de Melhor Elenco de Filme, o Critics’ Choice Award de Melhor Direção e o ACE Eddie Award de Melhor Edição em Filme de Drama.

Ao fim e ao cabo, com um currículo dessa envergadura, já não há vitória no Oscar que pareça impossível ou sequer improvável para Parasita.

→ MELHOR ATOR COADJUVANTE: Brad Pitt (“Era Uma Vez em… Hollywood”)

Vencedor da categoria em praticamente todas as grandes premiações-termômetro do Oscar — incluindo Globo de Ouro, SAG, Critcs’ Choice e National Board of Review Awards — , Brad Pitt já cristalizou seu favoritismo para a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante na cerimônia da Academia, desbancando veteranos do calibre de Al Pacino, Anthony Hopkins, Tom Hanks e Joe Pesci. Tudo graças ao seu desempenho em Era uma vez em… Hollywood, longa no qual encarna Cliff Booth, o carismático dublê, melhor amigo e faz-tudo do astro decadente Rick Dalton, vivido por Leonardo DiCaprio.

O papel não só reaviva a parceria entre Pitt e o cineasta Quentin Tarantino — iniciada em 2009, com Bastardos Inglórios, como também marca sua sexta nomeação ao “careca dourado”. O ator, que só levou o prêmio uma vez — porém na função de coprodutor, graças à vitória de 12 Anos de Escravidão como Melhor Filme, em 2014 —, já havia sido indicado à estatueta por suas perfomances como protagonista, em O Curioso Caso de Benjamin Button e O Homem que Mudou o Jogo, e como coadjuvante, em Os 12 Macacos. Já como coprodutor, as indicações ao prêmio vieram, inicialmente, em 2012, também por O Homem que Mudou o Jogo, e, mais recentemente, em 2016, por A Grande Aposta.

→ MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Laura Dern (“História de um Casamento”)

Em sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, Laura Dern, tal qual Brad Pitt, também chega à cerimônia da Academia como favorita ao prêmio deste ano, depois de sair vitoriosa das disputas pelo Globo de Ouro, Critics’ Choice e SAG Award.

Nomeada pela primeira vez a uma estatueta em 1992 — por seu papel como protagonista em As Noites de Rose , a atriz , além de filha dos veteranos astros de Hollywood Bruce Dern e Diane Ladd, ainda carrega o título de musa do diretor David Lynch, com quem colaborou em obras icônicas, como Veludo Azul, Coração Selvagem e Twin Peaks: O Retorno.

Nos últimos anos, Dern tem visto sua notoriedade crescer exponencialmente, após marcar presença em produções de forte apelo popular, como o filme Star Wars: Os Últimos Jedi e a série Big Little Lies. Entre 2019 e 2020, seu desempenho como a advogada Nora Fanshaw, no longa História de um Casamento, chamou a atenção da crítica e do público, em especial por conta de um monólogo de forte teor feminista, no qual sua personagem brilha ao discorrer, sem papas na língua, sobre as agruras da maternidade.

→ MELHOR ATOR: Joaquin Phoenix (“Coringa”)

Favorito imediato ao Oscar de Melhor Ator desde a primeira exibição de Coringa realizada ainda em agosto de 2019, durante a 76ª edição do Festival de Veneza — , Joaquin Phoenix deve, enfim, receber seu primeiro troféu da Academia, depois de quatro indicações ao prêmio, por papéis em filmes como Johnny & June e O Mestre.

Vencedor do Globo de Ouro, do SAG e do Critics’ Choice Award deste ano, Phoenix promete desbancar concorrentes de peso, como Antonio Banderas, Leonardo DiCaprio e Adam Driver, graças ao seu magistral desempenho na pele de um dos mais icônicos personagens da cultura pop, já vivido por nomes como Jack Nicholson e Heath Ledger — cuja atuação antológica, em Batman: O Cavaleiro das Trevas, lhe garantiu a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante, entregue postumamente à sua família, em 2009.

→ MELHOR ATRIZ: Renée Zellweger (“Judy: Muito Além do Arco-Íris”)

Depois de mais de dez anos afastada das temporadas de premiações, Renée Zellweger retorna em grande estilo aos tapetes vermelhos de Hollywood, como favorita absoluta ao Oscar de Melhor Atriz deste ano. Vencedora do Globo de Ouro, do SAG, do Critics’ Choice e do National Board of Review Award, a texana atingiu em cheio o coração do show businness norte-americano ao encarnar a lendária Judy Garland, na cinebiografia Judy: Muito Além do Arco-Íris.

O filme, dirigido por Ruppert Goold e coproduzido pela BBC, revisita os anos de ocaso da atriz e cantora, eternizada na história do cinema por seu papel como Dorothy, no musical O Mágico de Oz. Endividada, relegada ao ostracismo e acometida pelo vício em barbitúricos, a artista se agarra à esperança de um retorno à vida pública, após ser contratada para uma temporada de shows em Londres, durante o inverno de 1968.

Os conturbados bastidores da turnê britânica — que seria a última da vida de Garland — servem de fio condutor para o longa de Goold, no qual Zellweger se entrega a um rigoroso processo de caracterização, emprestando inclusive sua voz à personagem, ao interpretar clássicos de seu repertório, como Somewhere Over the Rainbow e The Trolley Song.

→ MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Greta Gerwig , baseada no romance de Louisa May Alcott (“Adoráveis Mulheres”)

Apesar de injustamente ignorada na categoria de Melhor Direção, Greta Gerwig ainda reúne grandes chances de sair premiada da 92ª edição da cerimônia da Academia, mais precisamente com a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado. À frente da sexta versão cinematográfica de Adoráveis Mulheres, a atriz e cineasta apostou na quebra da linearidade como uma bem-vinda ferramenta de renovação — e subversão — do clássico romance de Louisa May Alcott, cuja narrativa já foi levada às telas sob a batuta de nomes como George Cukor e Gillian Armstrong.

Embora seu favoritismo ao prêmio da categoria só possa ser confirmado — ou desmentido — no sábado (1/2), após a divulgação dos vencedores dos WGA Awards, Gerwig já levou a melhor nos Critics’ Choice Awards e nos Scripter Awards, premiação concedida pela biblioteca da University of Southern California aos melhores autores de roteiro adaptado.

→ MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Quentin Tarantino (“Era Uma Vez em… Hollywood”)

Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original em 1995, por Pulp Fiction, e em 2013, por Django Livre, Quentin Tarantino tem (quase) tudo para repetir a dose em 2020, dessa vez por seu trabalho em Era uma vez em… Hollywood. Indicado pela quarta vez à estatueta da categoria, o cineasta já saiu premiado do Globo de Ouro e dos Critics’ Choice Awards e tende a manter seu favoritismo, embora não tenha sido sequer indicado aos WGA Awards, concedidos pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA.

Nesse cenário, seu principal concorrente na disputa pelo troféu deve ser o sul-coreano Parasita que — embora tendo de lidar com a resistência histórica da Academia em premiar produções de fora do eixo anglo-saxão — não só conquistou uma vaga entre os nomeados aos WGA, como também teve seu roteiro premiado por diversas associações norte-americanas de críticos, incluindo as de Chicago, San Francisco, Atlanta, Seattle e Austin.

→ MELHOR DIREÇÃO: Sam Mendes (“1917”)

O prêmio de Melhor Direção deve reservar uma das principais surpresas da noite de 9 de fevereiro, já que ainda não há consenso absoluto sobre o favorito à estatueta concedida pela Academia. Afinal, embora o britânico Sam Mendes tenha levado a melhor no Globo de Ouro e nos DGA Awards, por 1917, acabou dividindo o troféu dos Critics’ Choice Awards com Bong Joon-Ho, de Parasita, e perdendo para Quentin Tarantino, de Era uma vez em… Hollywood, no National Board of Review Awards.

Ainda assim, o cineasta inglês parece contar com uma ligeira vantagem na disputa pelo “careca dourado”, tanto pelo peso que sua vitória nos DGA representa para a categoria quanto pela consagração de seu filme em outras importantes cerimônias-termômetro, incluindo os PGA Awards.

→ MELHOR FILME: “1917”

Embora, nos últimos anos, tenha se tornado mais comum a entrega das estatuetas de Melhor Filme e Melhor Direção a produções distintas — vide os casos de Roma e Green Book, em 2019; La La Land e Moonlight, em 2017; ou Spotlight e O Regresso, em 2016 — , a tendência histórica ainda é a de que ambos os troféus sejam concedidos a um mesmo longa-metragem — conforme ocorreu em 2018, com A Forma da Água, e em 2015, com Birdman. Assim, caso se confirme a vitória de Sam Mendes como Melhor Diretor, é muito pouco provável que seu 1917 não leve a melhor na principal categoria da noite.

A favor do épico de guerra— que procura reconstituir, num único falso plano-sequência, a travessia de dois soldados britâncios por território inimigo — pesam não apenas sua vitória nos PGA Awards (considerada a principal premiação-termômetro do Oscar), mas também suas conquistas no Globo de Ouro, além do prêmio de Filme do Ano concedido pelo American Film Institute (AFI).

--

--

Lucas Bandos Lourenço

Jornalista | Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP